quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Estou em idade de construir e abusar da minha personalidade

Já reparei, que a uma velocidade demasiado rápida, começo a mudar. Não posso dizer que todos e tudo muda comigo, mas reparo em passagens da minha personalidade. Ontem era poeta, hoje sou suicida. Ontem era feliz, hoje estou morto. Começo-me a assustar verdadeiramente. Ao ponto de me perguntar com certa frequência:
“Será que me conheço?”
Será que alguém se conhece-se a si mesmo, ou serei eu o único a ter esse objectivo? De um dia saber exactamente quem sou. Porque hoje, sei que nunca posso esperar nada de mim. Nunca posso esperar uma acção que venha de mim. Lembro-me de algo que se passou, a cerca de um ano, algo assim.
Estava eu a andar pela rua com um amigo, quando vemos dois rapazes novos, a correrem contra nós. Percebi que fugiam de alguém ou algo. Estiquei e tentei perceber do que fugiam. Pelos menos dez rapazes, todos de mau aspecto, corriam atrás deles, e lembro-me bem, que qualquer pessoa fugiria, já que os iam assaltar. Com eles, também me pus a fugir.
Entramos num lugar, espécie de consultório, de porta aberta. A nossa frente, escadas. Umas para cima, e outras para baixo. Os rapazes que fugiam tomaram a debaixo, e o meu amigo ia para a debaixo com eles. A tempo disse-lhe para irmos para a de cima. Em cima, estava o consultório com guarda, entramos e não corremos perigo algum. Fizeram-nos uma espera e acabaram por se ir embora. Mas sei que uns desceram para apanharem os rapazes que fugiam.
Hoje, passo todos os dias por essas escadas, e tenho receio de as descer. Talvez porque tenho ideia que em baixo é apenas um beco, e os dois rapazes foram assaltados. E sei como me sinto. Podia ter tentado ajuda-los. Podia ter sido o herói que tanto quis ser, e contudo fui cobarde. Fiquei no consultório, sem nada fazer.
Tanto quis ser alguém, que nada fui. É em momentos como este que me odeio, e digo:
“No que me tornei…”

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