quinta-feira, 22 de março de 2007

História por acabar: Rescrita do Conto “A floresta em sua casa”, de Maria Judite Carvalho

Poeira e cinzas voavam pelo céu cumprimentando o Sol dizendo mau dia. O negro futuro amanhecia e o calor do fogo esquecido saqueava as pessoas envelhecendo-as de dia para dia. Apesar da tristeza acumulada pelas décadas de guerra e terror, duas crianças ao longe sorriam. O seu pai chegara de um mundo exterior e sombrio para a fria e mas acolhedora casa. Este encontrara, a caminho de casa, um grande quadro. Nele estava pintada a selva. Pelo menos era o nome incrustado na madeira da moldura. “A selva” somente estas palavras deram para preencher o resto da tarde desta família com a sua imaginação. Nem mesmo o pai já se lembrava da selva. Assim após uma longa procura, numa mente muito preenchida, lá encontrou, lembranças remotas do que era uma selva. Lembrava-se de ter falado dela na escola. Mas a selva era tão bela e tão antiga que nem uma única devia existir no mundo actual. Fixou por fim os olhos no quadro. Neste viam-se animais, um animal com uma longa juba, uns mais pequenos e peludos, um outro mais pequeno que acabaram por reconhecer como uma aranha um dos únicos animais ainda vivos na terra. A pedido dos seus filhos, o pai esforçou-se por se lembrar dos nomes dos restantes animais. Mas tal era a confusão de recordações que este só se lembrou do nome de um, O Leão. Felizes por este novo conhecimento foram se deitar.

Mas o filho mais novo não, ficou parado a fixar o quadro, a imaginar, e durante as sucessivas revistas no quadro o leão mexeu-se! Olhou-o nos olhos e saltou da tela. O rapaz estava com tanto medo que caiu e nem conseguiu falar. O leão olhou o. O rapaz sentiu o seu olhar esfomeado. Sentiu que este desejava comê-lo. Mas não ele o objecto da sua fome. Por alguma razão não ele. Seria ele demasiado magro? Numa voz ainda tremida perguntou:
- Que queres? – O leão estarreceu a ouvir estas palavras. Fixou o rapaz, possivelmente não percebia o que este dizia mas sentia o medo e respeito pela criatura que ele era.
- Por favor não nos magoes. Eu respeito os animais. Os poucos que o mundo ainda tem. E eu nunca te faria mal. Recua para a tua tela. Não temas. As únicas pessoas ricas no mundo poderão tentar te roubar. Mas eu não deixo, eu não deixo. Fica protege-nos. Ajuda nos a viver. – Parou de falar suspirou – Por favor.
O Leão manteve-se imóvel acabando por recuar para a tela. O segredo do leão ficou guardado no coração de uma jovem inocência e nunca foi revelado. Mas se o leão tinha vida ou não, isso só depende da imaginação de criança.

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