sábado, 16 de junho de 2007

Canto sem Encanto: Rapariga Muda

Vi-a. Era muda. Não falava. Agarrava um CD de música. Puxou pela mãe. A mãe olhou-a. A mãe tinha óculos e era loira. A filha era morena e muda. Mostro-lhe o CD. Não disse nada. Ajoelhou um joelho e juntou as duas mãos. Parecia rezar. Rezava para quem lhe era mais querida. A sua mãe olhou-a. Disse que sim. A rapariga não falava. Apenas pedia em silêncio o CD de música. A mãe disse que sim. Ela levantou-se para logo se ajoelhar. De novo a mãe disse que sim acenando. A rapariga era muda. Ela agarrou a mãe num abraço. E sorriu com ela.
Foi-se embora. Levando o CD de música na mão. Ela afastou-se. A mãe procurava livros de arte moderna. A filha procurava outro CD. Tirou outro CD. Ajoelhou-se mais uma vez á mãe. A mãe não olhou. Ela puxou uma vez. A mãe olhou. Ajoelhou-se e pediu o CD. A mãe esperou. Pegou no CD e olhou para ele. Disse que sim. A filha abraçou-se a ela. Deu-lhe um beijo. Ela foi-se embora de novo. Ligou os “headphones” com música. Colocou nos ouvidos. Começou a mexer-se com a melodia. Não mexia a boca. Não sabia a letra. Não sabia falar. Ficou ali com a música.
A mãe chegou. Ela abraçou a mãe. A mãe sorriu. Ela apontou para o que ouvia. A mãe acenou. Disse que gostava. Ela sorriu. Pegou no novo CD de música. Mas a mãe apontou para os que já tinha. Era suficiente. E ela não falava. Apenas sentia-se feliz com o que a mãe lhe deixaria comprar. Saltava e pulava. Trazia uma camisa ás riscas e uma saia de ganga. Era muda A mãe tocou no relógio e apontou para a saída. A filha sorriu e apontou para as prendas. A mãe disse que sim mais uma vez. A filha sorriu e saltou. Abraçou a mãe e disse:
“Obrigado mãe, adoro-te.”
Não era muda.