quarta-feira, 6 de junho de 2007

Gravidade para que te quero

Prendes me á terra. Todos te têm constantemente. Os cientistas chamam te de gravidade. E contudo, acho que não é a gravidade que nos prende na terra. Pelo menos a mim. São certas coisas. Certas pessoas. Certas esperanças. Todas elas razoes para nos prendermos á Terra. Gravidade? Sem dúvida, mas se quero ser verdadeiro, digo-o sem problemas, o que me prende a esta Terra, não é uma lei científica, mas a esperança.
Mas de esperanças, já estamos nós todos cheios. Esperanças de uma vida melhor, de um carro melhor, dum emprego melhor e duma saúde estável. E contudo, nem aqui me aplico ao estereótipo comum. Estou com esperanças, estou sim, mas nenhuma dessas. Estou com esperanças na confiança. Numa vida onde confiar uns nos outros é normal, comum e revigorante. Estou com esperanças numa sociedade mais justa, alargada e serena.
Mas sinto-me infeliz. Não sei se foi culpa minha ou não, mas tornei-me um viciado. Independentemente do momento, lugar ou condição, eu estou sempre viciado. Talvez esteja viciado em algo inofensivo. Ou algo mortal. A verdade é que esquecendo o que quer que possa acontecer, eu preciso desse vício. Preciso dessa coisa que me vai acalmar, indirectamente e mesmo sem eu saber que esta o faz. Preciso desse hábito suicida e constante. Preciso de saber que posso recorrer a ele, a qualquer momento.
O problema deste meu vício é que o aplico a objectos. Substâncias. Pessoas. E destes três, o seu uso abusado acaba por os estragar, mesmo até sufocar. Os objectos quer sejam autênticos ou apenas virtuais, perdem a sua cor e o seu brilho inicial. As substâncias passam pelo sangue tanto que até o próprio cheiro me enjoa e sufoca. E as pessoas, essas afastam-se de medo, tanta é a responsabilidade sobre eles, já que carregam a tua pessoa. A tua alma. Quem tu és.
A gravidade existe. Apenas a minha gravidade varia. Hoje é cafeína. Quem sabe amanha é cocaína. Ou talvez nunca o seja. Talvez apenas tenha dito cocaína porque rima com cafeína. A verdade é que me assusto a mim mesmo. Tenho de parar de me viciar em tudo. Tenho de parar. Os vícios que já tive davam uma lista. E com cada item, estariam as longas horas de prazer. Os abusos e usos contínuos. Tenho de parar. Parar agora que é cedo. Parar com os vícios!
E já estou a precisar de um vício novo. Como cheguei a isto?

Sem comentários: