segunda-feira, 21 de maio de 2007

Diário de um sonhador

"O pior de sonhar, é que um dia vamos acordar.
E quando sonhamos viajamos por mil mundos. Andamos mais rápido que a velocidade da luz. Vagueamos por campos verdes. Somos atletas e verdadeiros deuses. Tocamos música e criamos universos. Tudo faz sentido e tudo anda normalmente. Voamos de um lado para o outro, como uma corda sobre um violino, deslizamos. Suavemente, sem rumo ou maré. Somos o que queremos ser. O mundo é brilhante e nosso. A relva é verde e nossa. Ninguém nos chateia ou aborrece. As crianças não são envergonhadas. Ou velhos não estão arrependidos. Os jovens amam-se. Os adultos não criam conflitos ou disputas. E tudo corre bem. Como se tudo tivesse uma finalidade. Como se o mundo fosse perfeito. Esquecemo-nos mesmo que é um sonho. Que somos nós que sonhamos. E que é por nossa culpa o mundo ser assim. Parece tudo tão linear, tão aberto que seria impossível ser sonhado. Seria impossível a mente de alguém criar algo assim.
E contudo é um sonho. Um sonho que não se farta. Um sonho que não grita ou aborrece. Tão belo quanto um beijo. Tão único quanto um sorriso. Tão quente quanto um abraço. Tão simples quanto a chuva. Tão melódico como a música. Tão leve quanto uma pena. Tão coordenado quanto um improviso. Tão magnifico quanto uma memória. Tão aberto quanto a liberdade. No sonho não há porquês. Não existem justificações plausíveis ou ordenamentos feitos. Existe o sonho.
E o pior de sonhar, é que estamos de facto a sonhar. Estamos mesmo a idealizar algo. A criar um mundo. A seguir um voo de uma andorinha. A ver uma folha boiar. Tudo está certo até ao momento em que acordamos. O mundo é destruído, a andorinha morre e a folha desfaz-se na água. Nada é eterno, e o sonho, é de curta duração. É tão incerto quanto o destino. Houve alturas em que não conseguia sonhar. Perguntavam-me admirado porque não sonhava. E respondia que não conseguia. Não conseguia suportar a ideia que ia acordar e que tudo aquilo deslumbrante e único iria desaparecer, no primeiro minuto em que se acorda. E o sonho, o sonho é negro. Estamos de olhos fechados e a deixar a mente mandar em nós mesmos. Por vezes saltamos e desviamos obstáculos, e contudo, sonhamos. Contudo estamos deitados e a dormir.
E quanto acordamos, o sonho foge. Como se fosse tão puro, tão limpo que a sua existência não pode coexistir com este mundo. Foge como se fosse o fim. O fim de um belo e simples sonho. Foge como se estivesse arrependido. Como se escondesse um universo paralelo.
Não suporto sonhar, porque sei que terei de acordar. E tudo o que criei e imaginei será perdido. Perdido para mais uma historia em família. Para mais um pormenor interessante feito em conversa de almoço. E contentes dizemos entre duas garfadas de um almoço já frio:
Sabes o que sonhei hoje?
E esse mundo, esse universo perfeito, esse estranho sonho, não passa de um tema de conversa. Não passa de uma doce recordação. Por vezes dura e frustrante. Outras vezes nossa e única. O sonho, o sonho deveria ser guardado em DVD. Para poder ver uma e outra vez. Sempre que quisesse. Porque o sonho é nosso. E a liberdade e força que temos quando sonhamos, isso, é sem dúvida eterno. Seria eu capaz de trocar a vida por um sonho?
Sim”

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