quinta-feira, 12 de julho de 2007

Férias de Verão

Fui de férias. A inspiração vai morrer um pouco nas próximas semanas, mas talvez assim consiga mais tempo para mim. Mais tempo sem preocupações. Mais tempo. Não que a escrita me consuma tempo. Não. Escrever nunca me consumiu tempo. Apenas alma. Mas quem precisa dela?
Fui de férias. Vou nadar em água salgada. Torrar ao sol abrasador. Enfiar pés na areia. Por creme nas costas. Correr pela praia. Sim, a praia. Chego a pensar que estar de férias na praia é um pouco masoquista. Mas quem sou eu para mal dizer do meu estilo de vida? Já me custa saber que muitos dariam para ter tanto tempo de férias e de tão boa qualidade como eu tenho. Mas enfim, são férias.
Como já disse uma vez, as férias servem mais para dizer que as tivemos do que para as realmente usar. Vou então de férias. Sem me querer preocupar com nada de nada. Apenas ali, sozinho, a torrar ao sol. Ver as bifas á noite. Receber um sms ocasional e não me preocupar com o saldo do telemóvel. Quatro canais na televisão e um galo que canta todas as manhãs na casa do lado. Sim as minhas férias são em sítios esquisitos. E com gente esquisita. E a fazer coisas… completamente normais.
As férias são quando queremos que sejam. E se hoje parto par terras d’El mar, é porque tenho de partir, não porque quero. Férias já eu tive o ano todo. Mas o presente diz me que férias é aquilo e eu vou. Sem preocupações. Soubesse o D. Afonso Henriques que o seu povo vai passar as férias a terras de mouros, talvez se passasse da cabeça. Mas pronto, como ele não está cá, desejo umas boas férias, e um abraço para essa malta toda que por ai anda.

Canto Sem Encanto: Rapaz Abandonado

Estava ali. Tão sozinho e abandonado. A vida não lhe corria bem. O tempo não passava. Nada se resolvia. Tinha uma cara estranha. Como se quisesse sorrir mas o corpo forçava um ar sério de dor. Estava triste. Pensativo. Cansado. Abandonado. Tinha cabelo preto. Era alto. Tremia. Tinha frio. Andava confiante por entre as pessoas. Erguia no seu subconsciente os ombros para cima. Imponha respeito. Olhava para cada pessoa que via. Olhava de uma maneira desconfortável. Tentava afastar o olhar dele, mas era me impossível. Não era pobre. Não era abusado. Era normal. E contudo o rosto dizia todo. Um olhar sozinho e perdido. Parou. Parou de andar. Encostou se a uma parede. Colocou o pé como apoio e descontraiu o outro. Cruzou os braços e com a mão esquerda coçou o queixo. Passou levemente a mão pelo pescoço e manteve o olhar em frente. Sem problemas. Sem querer saber de quem passava e o olhava. Estava ali. E dali não sairia.
Subitamente algo o atingiu. Como um raio numa noite escura. Não sei bem donde. Mas algo o alterou. Saiu da parede. Começou a andar rapidamente. Embateu contra pessoas. Não parou para pedir desculpa. Continuou a andar. Cada vez mais depressa. Passou por tanta gente. Não olhou para ninguém. Não queria saber. Correu e correu. Era misterioso. Não sei qual de nós mais. Ele que corria. Ou eu que corria com ele tentando acompanhar o seu passo. Não olhou para trás uma só vez. Estava comprometido. A pensar bem no que ia fazer. E contudo não saiu do mesmo lugar. Corria de um lado para o outro. Mexia-se agilmente. Mas temia em andar a volta. Sem sair do mesmo sitio. Sem criar nada. Sem concluir nada. Apenas vagueava. Estava estranho. Era estranho. E no fim parou. Uma voz disse:
“Atrasei-me muito?”
Ele sorriu e não quis saber mais do que fugia.

Frases perdidas na mente V

O álcool não julga, apenas ouve. 7-5-2007

E não procuramos nós por alguém que nos ouça? 7-6-2007

Terei de ser normal para os normais, e diferente para os tolerantes. 7-7-2007

Se a dor for ilusão e o amor ficção, então a vida é uma desilusão. 7-8-2007

Quando não estás, a ausência faz-me chorar; quando estás, a presença faz me sonhar; quando não existes, então é porque sou feliz. 7-9-2007

O imprevisível mata. O previsível aborrece. 7-10-2007

A minha consciência reflecte-se num fanático, um amigo e um desiludido. 7-10-2007

Se a saudade fosse gente, ela estaria entre nós os dois. 7-11-2007

Se o holocausto fosse hoje, quem tivesse um modem lento ia para centros de concentração. 7-11-2007

O corpo pede férias, a mente pede criação e o universo, esse, dá-me pura ilusão. 7-12-2007

Fui me embora, parti. Que não sintas saudades de quem nunca tiveste, que não tenhas pena do que nunca disseste. Adeus, já fui, já vou ao longe, sem olhar para trás. Sem remorsos ou dor. Fui. 7-12-2007

quarta-feira, 11 de julho de 2007

A frustração da tecnologia

A tecnologia dá nos tudo num segundo. A tecnologia tira-nos tudo num segundo.
Traz-nos memórias num CD, vidas numa pendrive, gostos num iPod. E a tecnologia faz de nós seus lacaios. Seus dependentes eternos. Faz futuros escritores dependentes do Word. Faz futuros arquitectos dependentes de programas complexos e ordenados por sabe se lá quem. Faz nos tirar um curso cada mês para não sermos ultrapassados por uma criança de sete anos. Faz nos depender dos mais novos, pois eles são os mais velhos de hoje.
O mundo está trocado pela tecnologia. Basta tempo e dedicação, e somos donos do mundo. Pelo menos do nosso. Daquele que nos dão a conhecer, o digital. O mundo digital faz-nos habitantes do sonho chamado “aldeia global”. O sonho tão próximo da realidade, e contudo com tanta falta de carácter e ordem que talvez nunca passe disso, um sonho. Um sonho, mas não de todos nós.
Maltratam-se as pessoas, pois o seu trabalho de horas é convertido em nada. Em um pequeno ecrã negro, de plasma. Abismados com a tecnologia, os seus preços e capacidades, nem sabemos bem quem somos. Porque somos lacaios da informática. Feitos para comprar. Para pedir algo mais rápido, eficiente, nosso. Hoje não vemos fotos em álbuns. Hoje não ouvimos música em CD’s. Hoje não escrevemos em papel. Hoje não andamos, navegamos.
O mundo é plano. A tecnologia é frustada. Exigimos rapidez máxima! E hoje, em vez de corrermos para dizer a alguém:
“Amo-te.”
Preferimos mandar um SMS ou um E-mail. E se hoje queremos falar com alguém para ouvir a sua voz e sentirmo-nos especiais e amados; para a ouvir dizer:
“Gosto de ti.”
Preferimos telefonar, pois a voz ao telefone parece tão igual á de ao vivo.
O mundo está diferente. Não precisamos de um velho do Restelo para o perceber. Todos o sabemos. Não sou um velho. Não noto as diferenças tanto como outros. Mas sou novo. E no mundo de hoje todos somos novos. Todos tentamos nos adaptar a este mundo sempre igual e contudo sempre em mudança. Hoje, ninguém é adulto, pois todos

terça-feira, 10 de julho de 2007

Poetry that does not rhyme: Old memories

Like a lightning it strokes me.
An old memory that changed all my thoughts of the day.
It hit me and made me realise how some things are lost.
Old photos bringing back short and unimportant moments.
But yet, moments no one likes to forget.
How in a second you can remember.
You can bring back days and hours of laughter.
You can remember what you never wanted to keep.
Moments, seconds of happiness.
But unimportant for your future life.
So you erase them.
You erase the past that doesn’t matter.
You erase the moments that don’t count.
You kill the stuff that aren’t in your mind.
You make them go away.
Because your mind has limits.
You can’t hold every moment.
You can’t keep every laugh.
You can’t keep every day.
You can’t keep every cry.
So your mind erases what it find useless.
And leaves spaces blank in your memory, for new times.
New people.
New thoughts.
New memories.
The mind expands.
And you only keep what matters.
But who decides what matters and doesn’t matter?

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Diário de uma dança

“Ela era linda. Olhava para mim sem problemas ou vergonhas. Eu não. Eu estava nervoso e cheio de medo. A dança não é o meu forte. Mas ali, forçado a dançar com a beleza, deixei me ir. A melodia tocou alta. Tão alta estava que parecia me querer magoar. Tocava como se gritasse contra mim bem alto para dançar. Mas ali, eu e ela a olharmo-nos, nada tocava. Não havia música. Nada se ouvia. Nada existia. Apenas cada passo de dança, tal como havia aprendido.
Desajeitado, tropeçava e tentava fazer boa figura. Dizia alto os passos de dança. Olhava para os meus pés atentamente de modo a não a pisar. Mas tudo o que tentasse fazer, apenas piorava a minha figura. Ela contudo, não se preocupou. Pediu para deixar de olhar para os seus pés, que colocasse a mão fixa nas minhas costas e que relaxasse. Os meus ossos não me obedeciam, e dentro de mim apenas uma voz ecoava, a sua.
Levantei o olhar e contemplei o seu corpo. Puxei contra mim e coloquei a minha mão nas suas costas. Abrandei a minha respiração e deixei de repetir cada passo. Ela olhava para alto, para os meus olhos. Comandava a dança. Cada passo, perfeito. Rodava e pulava para o lado angelicamente. Por vezes um erro ou dois da minha parte, mas ela nem ouvia as minhas desculpas e deixava assim a dança fluir. Sorria e sincronizava a bela dança. E eu, levado por ela, até parecia saber dançar.
Não sabia para onde olhar. Ela tinha os olhos fixos em mim. Percorria o meu corpo simultaneamente querendo que a dança fosse perfeita. Perdi-me do tempo, e a musica não teria fim. Olhei á minha volta. Todos dançavam. Também desajeitados os parceiros tentavam obedecer ao controlo delas. Elas que pareciam nascer para a dança. Nascer para se moverem de um modo tão terno e divinal. E assim a dança progredia. Tentei esquecer o facto de me sentir suar. De me sentir perto de uma falésia, como se fosse cair. E a minha única salvação, era uma mão pequena que me agarrava, e me levava a dançar com ela.
A música acabou. E ela sorria feliz. Chegou-se a mim, e disse que tinha dançado bem. Perguntou-me se queria dançar com ela no baile do final de ano. Tentei disfarçar a minha desilusão, e apenas disse:
-Não. Não danço tão bem como tu. Mas conheço quem te possa levar. Um amigo. Dança muito bem, e com o qual farás a melhor das figuras, ali, no salão a dançares.
Ela disse obrigado. Afastei-me. Não sei se ainda sorria, ou se estava triste com a minha resposta. Não nasci para dançar. Seria uma afronta dançar com alguém tão perfeito. Pois a dança é artística, mágica, flúi como a água numa corrente. Será que ela também pensa assim?”

domingo, 8 de julho de 2007

Música para ouvir: Editors - Smoke outside the hospital doors



Pull the blindfold down
So your eyes can't see
Now run as fast as you can
Through this field of trees

Say goodbye to everyone
You have ever known
You are not gonna see them ever again

I can't shake this feeling I've got
My dirty hands, have I been in the wars?
The saddest thing that I'd ever seen
Were smokers outside the hospital doors

Someone turn me around
Can I start this again?

How can we wear our smiles
With our mouths wide shut
'Cause you stopped us from singin'

I can't shake this feeling I've got
My dirty hands, have I been in the wars?
The saddest thing that I'd ever seen
Were smokers outside the hospital doors

Someone turn me around
Can I start this again?
Now someone turn us around
Can we start this again?

We've all been changed
From what we were
Our broken parts
Left smashed off the floor

I can't believe you
If I can't hear you
I can't believe you
If I can't hear you

We've all been changed
From what we were
Our broken parts
Smashed off the floor

We've all been changed
From what we were
Our broken parts
Smashed off the floor

Someone turn me around
(We've all been changed from what we were)
Can I start this again?
(Our broken parts smashed off the floor)
Now someone turn us around
(We've all been changed from what we were)
Can we start this again?
(Our broken parts smashed off the floor)

(Nota pessoal: A voz dele faz lembrar David Fonseca, e tem um toque que torna a música fantástica.)

O mundo é normal

Se o mundo é normal para quê ser anormal? Todas as coisas rolam como se o mundo se tratasse de uma montanha. Somos apenas pedras, á espera da derrocada. O mundo é normal, porquê ser anormal? Se todos são algo, alguns orgulham-se de não o ser. Se todos são alguém, alguns orgulham-se de nunca o terem sido. Se o mundo é redondo, e descendemos de macacos, alguns orgulham-se de o contradizer. E tudo progride, tudo segue, e nós continuamos uma pedra á espera dessa longa derrocada.
Tudo tem uma lógica. Qualquer pessoa procura justificar-se das suas atitudes. Procura dizer, de uma maneira lógica ou ilógica, a razão das suas atitudes. E a verdade é que nem tudo tem razão de ser. O mundo é de facto normal, nós é que teimamos em torná-lo anormal. Porque gostamos da diferença, da dificuldade, da lição de moral depois de cometermos o erro. Criamos e evoluímos. E o mundo torna-se menos normal.
Ninguém gosta de ser normal. Talvez gostem os velhos do Restelo, teimando que o bom seria manter o passado. Pois aí, talvez fossemos todos normais. Talvez se todos conservássemos o passado. Se a evolução estagnasse talvez deixássemos de tentar ser diferentes. A diferença provém do comum. E hoje, hoje o mundo é uma aldeia global. Ou pelo menos luta para o ser. E se o mundo se irá tornar num globo todo igual, então aí explodiremos as nossas diferenças, ai seremos todos menos como somos hoje. Aí, iremos seguir aqueles que consideramos diferentes.
Hoje, está em voga ser diferente. Esquecer a normalidade e tomar uma posição: ser diferente. Mas diferente do quê? Daquilo que querem que sejamos, ou igual àqueles que consideras diferentes? E são eles diferentes do quê? De ti? Procuramos sobressair. Procuramos fazer-nos notar. Fazer-nos ouvir. E damos connosco a ser quem nunca gostaríamos de ter sido. E apenas o somos, para sermos diferentes. O mundo é normal, lutamos pela sua diferença. E enquanto uns lutam para se imortalizar, outros lutam por quem nada tem. Enquanto uns criam para tornar a nossa vida diferente outros trabalham para manter tudo em pé. Enquanto uns vendem o corpo outros curam quem está doente. O mundo está cheio de diferenças. E contudo é normal. Porquê lutarmos pelas nossas diferenças? Somos todos dignos da vida. Mas apenas alguns têm direito a vive-la.