quinta-feira, 12 de julho de 2007

Canto Sem Encanto: Rapaz Abandonado

Estava ali. Tão sozinho e abandonado. A vida não lhe corria bem. O tempo não passava. Nada se resolvia. Tinha uma cara estranha. Como se quisesse sorrir mas o corpo forçava um ar sério de dor. Estava triste. Pensativo. Cansado. Abandonado. Tinha cabelo preto. Era alto. Tremia. Tinha frio. Andava confiante por entre as pessoas. Erguia no seu subconsciente os ombros para cima. Imponha respeito. Olhava para cada pessoa que via. Olhava de uma maneira desconfortável. Tentava afastar o olhar dele, mas era me impossível. Não era pobre. Não era abusado. Era normal. E contudo o rosto dizia todo. Um olhar sozinho e perdido. Parou. Parou de andar. Encostou se a uma parede. Colocou o pé como apoio e descontraiu o outro. Cruzou os braços e com a mão esquerda coçou o queixo. Passou levemente a mão pelo pescoço e manteve o olhar em frente. Sem problemas. Sem querer saber de quem passava e o olhava. Estava ali. E dali não sairia.
Subitamente algo o atingiu. Como um raio numa noite escura. Não sei bem donde. Mas algo o alterou. Saiu da parede. Começou a andar rapidamente. Embateu contra pessoas. Não parou para pedir desculpa. Continuou a andar. Cada vez mais depressa. Passou por tanta gente. Não olhou para ninguém. Não queria saber. Correu e correu. Era misterioso. Não sei qual de nós mais. Ele que corria. Ou eu que corria com ele tentando acompanhar o seu passo. Não olhou para trás uma só vez. Estava comprometido. A pensar bem no que ia fazer. E contudo não saiu do mesmo lugar. Corria de um lado para o outro. Mexia-se agilmente. Mas temia em andar a volta. Sem sair do mesmo sitio. Sem criar nada. Sem concluir nada. Apenas vagueava. Estava estranho. Era estranho. E no fim parou. Uma voz disse:
“Atrasei-me muito?”
Ele sorriu e não quis saber mais do que fugia.

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