sábado, 3 de fevereiro de 2007

Existem porque nos os fazemos existir

Trazem armas e carregam sonhos violados pela praxe. Quem são eles? Diariamente os vejo em notícias, em fotos, na minha rua, na minha morada, no meu sistema, no meu imposto. Gostaria de perceber o que fazem eles. Gostaria de saber porque existem. Não somos nós humanos o suficiente para percebermos que não precisamos deles?
Os militares.
Os soldados da paz.
Os polícias.
O exército.
A força de intervenção.
Com as suas armas, violadoras e respeitadoras. As suas fardas limpas e os seus bonés azuis. Carregam aquilo que lhes dão. Cacetetes? Armas? Não.
Carregam a responsabilidade, o serviço, a formação. Para quê? Para nos salvar de nós mesmos. Para nos salvar deles. Para nos salvar da sua existência. Seriam precisas armas, se todos tivessem condições? Seriam precisos polícias, se todos nos respeitássemos mutuamente? Não.
A polícia, o exército, a guerra, fomos nós que criamos. Basta-nos morrer agora com as suas consequências.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Discurso memorável: José Saramago - Discurso do Nobel Português

"Cumpriram-se hoje exactamente 50 anos sobre a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não têm faltado comemorações à efeméride. Sabendo-se, porém, como a atenção se cansa quando as circunstâncias lhe pedem que se ocupe de assuntos sérios, não é arriscado prever que o interesse público por esta questão comece a diminuir já a partir de amanhã. Nada tenho contra esses actos comemorativos, eu próprio contribuí para eles, modestamente, com algumas palavras. E uma vez que a data o pede e a ocasião não o desaconselha, permita-se-me que diga aqui umas quantas mais.

Neste meio século não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se, as desigualdades agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica humanidade capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante.

Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não querem. Ou porque não lho permitem aquelas que efectivamente governam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava do ideal da democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos que nenhuns direitos humanos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem e que não é de esperar que os governos façam nos próximos 50 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor.

Não esqueci os agradecimentos. Em Frankfurt, no dia 8 de Outubro, as primeiras palavras que pronunciei foram para agradecer à Academia Sueca a atribuição do Prémio Nobel da Literatura. Agradeci igualmente aos meus editores, aos meus tradutores e aos meus leitores. A todos torno a agradecer. E agora também aos escritores portugueses e de língua portuguesa, aos do passado e aos de hoje: é por eles que as nossas literaturas existem, eu sou apenas mais um que a eles se veio juntar. Disse naquele dia que não nasci para isto, mas isto foi-me dado. Bem hajam portanto."

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Tomo decisões por conta própria

Sei, por experiência própria, que as decisões importantes na vida, são muitas vezes tomadas comum desabafo com um amigo. Procuramos alguém de confiança e contamos o que nos vai na alma. Pedimos um conselho ou apenas um ombro amigo. Muitas vezes nem nos importamos com a resposta que ele nos dá, apenas queremos quem nos oiça.
“Estou chateado com essa cena, não sei se me percebes. Sinto-me completamente perdido”
“Ya. Entendo…”
Esta resposta, tão oca, tão simples, tão…vaga. É capaz de nos alegrar. Faz-nos sentir que não estamos sozinhos no mundo. Que alguém nos ouve. Que temos alguém em quem confiar.
Talvez esse seja o meu defeito. Nunca confiei muito nas pessoas, e contudo muitos confiam em mim. Talvez seja essa a razão do meu estado actual. Como não confio nas pessoas, passei de mal para pior. Desisti das pessoas. Por muito boas que sejam, todas nos podem lixar com poucas palavras ou actos.
Portanto, hoje, tomei uma decisão, mais uma vez, sozinho. Não me arrependo ou preocupo com o resultado. Não tenho ninguém que me ouça ou console. Tomei a minha decisão, e vou ver os resultados. Tomei-a sozinho.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

E viva ao Dia Mundial do Silêncio

Desde quando é que as sirenes se tornaram comuns? Desde quando é que os acidentes de carro se tornam um hábito? Desde quando? Hoje assisti a um acidente. Polícias rodeavam o local. Coletes reflectores e olhares inocentes de gente que apenas queria chegar a casa a horas. Ao longe uma sirene a pedir prioridade na estrada.
E é tudo normal. Todos andam. Todos percorrem a sua vida. E contudo não consigo deixar de olhar. Deixar de me admirar. Tornou-se tão comum.
E a vida continua. Constantemente ouço sirenes. Ouço aviões a voarem de um lado para outro. Ouço pessoas a discutirem os seus problemas. O som é tanto que constato uma triste realidade.
Gostava que pudesse haver um dia chamado de “Dia Mundial do Silêncio”. Onde todas as pessoas falariam umas com as outras, mas em silêncio.
Um dia em que as pessoas não precisassem de discutir ou morrer. Um dia em que as ambulâncias e os polícias não fossem necessários. Um dia em que cada um respeitasse o próximo e não fosse preciso a prevenção de acidentes ou fugas a lei.
Um dia em que todos pagassem impostos, todos telefonassem para um amigo esquecido, todos se dessem bem. Um dia de silêncio. Sem conflitos, acidentes ou mortes. É apenas isso que peço, um “Dia Mundial do Silêncio”. Será possível?

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Organizem uma fuga deste Universo

O céu esta bastante negro hoje. Mais uma noite de chuva. Toca “O Homem do Leme” dos Xutos e Pontapés.
“Uma vontade de ir, correr o mundo e partir…”
E que vontade. Dá vontade de fazer as malas e sair daqui. Não conheço o mundo. Pelo menos por experiência pessoal. Nunca saí do meu País. O máximo que estive foi numa cidade fronteiriça, que acabei por notar, parecia ter mais portugueses que espanhóis. Contudo, acabo por desejar partir. Sei que o mundo esta cheio de coisas para conhecer. Porque não partir? Porque não fugir simplesmente, e partir para longe? Ponho a ideia na cabeça, e começo a fazer as malas.
O que levar? Ainda não andei um metro e já bloqueie! O que levar quando partimos? Olho para a mala vazia. Parece tão pequena, e contudo, a minha vida tem de caber numa só mala. Histórias do passado, textos, fotos, recordações, tudo num pequeno espaço. Não sei. Não sei o que levar. Algo é certo. Gostava de partir com uma bússola. Uma que me indique o meu norte. Um norte que me indique uma nova vida, cheia novas histórias, de novas pessoas, novas recordações. Haverá uma bússola assim?
Sei contudo que a mala continua vazia. E consigo perceber, porque não fugimos deste nosso mundo. Estamos tão apegados ao mundo que conhecemos. Tão apegados a recordações. Tão ligados ao sitio onde vivemos. As pessoas que conhecemos. A vida que abraçamos. Pelo menos eu, não consegui fugir. Não ultrapassei o facto de colocar a minha vida toda, numa mala. E que vida…
Agora, fora de ideias de fugir, ainda ouço a música a ecoar na minha mente.
“Foge o futuro, é tarde demais...”
Fica para outro dia então. Essa fuga que hoje tentei fazer, que fique para outra altura, outro dia, outra vida, outra pessoa.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Diário de um estudante

“Hoje, recebi mais um teste. A nota não correspondeu ao que desejava. Senti-me mal. No recreio fugi para chorar. Olhei para os meus colegas, uns satisfeitos, outros não. Olhei para o céu e roguei pragas a Deus. Porque é que tive uma nota tão baixa. Estou chateado. Desolado.
O pior de receber uma nota que não queremos ter, é contar aos pais. Minto. Digo que tive uma nota diferente. Tenho medo que não me deixem sair de casa. Não me deixem ver o Sol. A hora de jantar não consigo falar. Tive uma má nota mais uma vez. Tenho medo. Gostava de ter a nota máxima a todas as disciplinas. Às vezes estudo cinco, seis horas seguidas, e nunca tenho as notas que queria ter.
Serei eu estúpido? Acho que o mundo não tem lugar para pessoas como eu. Começo a recear fazer mais testes. Sei que vou ter de mostrar as notas e dizer que estudei o máximo que pude. Ouvir que não. Que se tivesse estudado o máximo teria a nota que eles queriam.
As tantas pergunto-me, eu estudo para os meus pais, ou para mim? É a mim que eu quero agradar, quando estudo muito, ou a cara dos meus pais, depois de verem as minhas notas? Porque, se for a ver, porque estudo? Começo a streesar. Começo-me a irritar.
Horas e horas a estudar coisas estúpidas que possivelmente não me serviram para nada na vida, para o quê? Para fazer um raio de um teste, e rezar para não ter negativa ou outra nota baixa. Estudo, mas não para mim. Estudo, ainda não sei bem porquê.
Hoje tive má nota, e começo a cair. Gostava de ser estudioso e só ter a nota máxima. Mas sou burro.”

(nota pessoal: A primeiro de várias páginas de um diário imaginário.)

domingo, 28 de janeiro de 2007

Música para ouvir: Tom Waits - God's Away on Business



I'd sell your heart to the junkman baby
For a buck, for a buck
If you're looking for someone
To pull you out of that ditch
You're out of luck, you're out of luck

The ship is sinking
The ship is sinking
The ship is sinking
There's leak, there's leak,
In the boiler room
The poor, the lame, the blind
Who are the ones that we kept in charge?
Killers, thieves, and lawyers

God's away, God's away,
God's away on Business. Business.
God's away, God's away,
God's away on Business. Business.

Digging up the dead with
A shovel and a pick
It's a job, it's a job
Bloody moon rising with
A plague and a flood
Jain the mob, jain the mob
It's all over, it's all over, it's all over
There's a lick, there's a lick,
In the boiler room
The poor, the lame, the blind
Who are the ones that we kept in charge?
Killers, thieves, and lawyers
God's away, God's away, God's away
On Business. Business.
God's away, God's away,
On Business. Business.

[Instrumental Break]

Goddamn ther's always such
A big temptation
To be good, To be good
Tere's always free cheddar in
A mousetrap, baby
It's a deal, it's a deal
God's away, God's away, God's away
On Business. Business.
God's away, God's away, God's away
On Business. Business.
I narrow my eyes like a coin slot baby,
Let her ring, let her ring
God's away, God's away,
God's away on Business.
Business...

(nota pessoal: Encontrei este artista por acaso. Estou grato por esse zapping nocturno)