segunda-feira, 2 de julho de 2007

Diário de uma corrida

“Estou a correr. Cada passo segue-se por outro. Quase nem os controlo. Apenas me desloco. A dor não existe. A respiração é perfeita. O meu andar é tão sincronizado. O vento alegra-me um pouco a face. Cada passo me faz mais próximo do meu objectivo. Seria me impossível parar de correr. O fim é a meta. É o objectivo final. É o meu único desejo de momento. O pensamento não existe agora. A dor não pode existir. A distracção não existe agora. O fim não pode existir.
O caminho é longo, mais vale segui-lo sem parar. Sem pensar em abrandar. Sem pensar em deixar de correr. A vida é um caminho. E neste momento eu corro numa corrida que chama mos de vida. O caminho nunca é curto. Todos os passos são certeiros. Todo o pensamento funciona perfeitamente. Tudo corre bem, quando corremos. O mundo cá fora não existe. Quando corremos tudo é diferente.
Os pés andam perfeitamente. Cada um segue o outro. Ambos se movem com uma perfeição única. As mãos movem o corpo em pequenas curvas que me fazem correr mais facilmente e perfeitamente. Nada me pode impedir de correr. Sei que corro sobre um piso não tão certo, não tão perfeito. Que poderei tropeçar e destruir toda a corrida. Sei que se algo correr mal, se algo me distrair, não serei capaz de continuar. Mas não posso pensar assim. Não posso.
A mente é tão única. Faz tudo andar. Somos completos altruístas. Porque quando corremos, só nós existimos. Parece que corremos num mundo distante, noutro universo. Sem nada á nossa volta. E o nosso único propósito correr. A dor não pode existir. Os passos são tão perfeitos que nem parece que os damos. Como se quiséssemos parar de correr, mas a mente não o quisesse. Pois o fim da corrida não está próxima e só o fim pode parar esta frenética corrida. Temos de seguir. Continuar a correr. De uma maneira tão perfeita e honesta. Somos humanos, e corremos.
Estou a correr. Cada passo segue o anterior. Não vou cair, não vou parar.”

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